A NEBLINA

Cara, você não vai acreditar.

O síndico do meu prédio acabou de soltar uma nota no WhatsApp avisando que teremos operação comboio para descer no elevador e vamos colocar Sem-Parar caso apareça algum pedágio.

Meu Deus do céu.

Que tempo é esse?
Parece Londres.

Não. Nunca fui pra lá.

Mas tenho Netflix, pô.

Eu vi num documentário sobre as tretas da Lady Di e Rainha Elizabeth. Família destrambelhada do cacete. Só tem doidão naquele castelo.

E o frio?

Não pode, pô.

Não somos acostumados a isso.

Nascemos num país tropical.

Eu nem tenho casaco.

O máximo são umas camisas de manga comprida da Colombo. O moço que me vendeu falou que eram camisas sociais.

Quer coisa pior?

Está chovendo!

Ah, não.

Teremos pessoas de guarda-chuva na rua. Pense no apocalipse.

Eu tenho algumas teorias sobre quem usa guarda-chuva. Pessoas que usam isso não tiveram uma infância feliz e a mãe obrigava a tomar Yakult pra fazer cocô molinho.

São pessoas que guardam segredos nebulosos e um dia irão se juntar com os maçons para juntos, tomarem o poder empunhando aquele instrumento.

Eles fazem sinais para se identificarem quando se encontram. Pode perceber.

Os maçons também fazem.

Maçom também é um cara estranho.

A vizinha do 133 saiu agora toda enrolada num casaco branco enorme, de chapéu e cachecol. Parecia um boneco de neve.

Tava ridícula.

Mas sou um gentleman.

Disse que ela estava ótima.